
Seria possível traçar um perfil do eleitor no
pleito de 2008?
Os dados disponíveis na
internet, aos quais obtive acesso, foram os do site do
Tribunal Superior Eleitoral e os da
Associação dos Magistrados Brasileiros.
O primeiro traz as informações estatísticas dos 130 milhões de eleitores conforme o sexo, a faixa etária e o grau de instrução.
A partir desses dados é possível saber em cada município, estado, região e no país qual é o eleitor brasileiro?
Penso que não. Essas variáveis, embora necessárias, não são suficientes para traçar um perfil do eleitor. Ficam de fora fatores muito importantes quando se trata de uma sociedade plural, como estabelece a Constituição Federal.
As questões políticas são muito mais amplas e estão relacionadas com outras variáveis, a saber: a raça/cor; classe social; renda; opção sexual (note-se que inexiste esse aspecto na estatística do TSE); ideologia; etc.
Um exemplo pode esclarecer melhor esse problema: uma das políticas públicas debatidas nestas eleições é a direcionada ao transporte público. Essa decisão depende de interesses econômicos, interesses de classes sociais e de concepções ideológicas sobre o papel do Estado. Assim, um sistema de transporte ineficiente que venha a ser implementado, tendo em vista uma maioria política eleita em outubro de 2008, pode ser atribuído ao baixo grau de escolaridade dos eleitores conforme demonstram as estatísticas (discurso muito comum nas falas conservadoras).
Ficariam de fora aspectos importantíssimos na configuração do perfil do eleitorado e das suas escolhas políticas, encobrindo-se dados importantíssimos como os já mencionados.
Trata-se de pesquisa por amostragem, diferentemente do banco de dados do TSE que registra todos os eleitores, realizada entre 27.06 e 06.07 de 2008 pelo instituto VOX POPULI e com o objetivo de investigar as opiniões, avaliações e posicionamentos da população a respeito de temas políticos e eleitorais, com destaque para o tema da corrupção eleitoral e seu combate. O público entrevistado foram os residentes em todo o território nacional, com idade superior de 16 anos, por meio de questionários (técnica survey) aplicados em uma amostra do universo da investigação. Foram 1.502 entrevistas telefônicas para o conjunto da população e para as cinco regiões. A margem de erro da pesquisa é de 2,5%.
De início cabe uma crítica.
Muito embora no site da
AMB veicule-se a notícia
"Perfil do eleitor brasileiro: voto, eleiçoes e corrupçao",
nao é disso que trata a pesquisa. Foram entrevistados residentes em todo o território nacional, com idade superior de 16 anos. Além disso, a entrevista foi feita por telefone, o que pode facilitar a burla.
Outro aspecto da entrevista
telefônica é a quantidade de residências no país que possuem telefone. Somente para ilustrar as possíveis
distorções que podem surgir desse tipo de entrevista basta verificar alguns dados divulgados pelo
IBGE nesta semana, dentre os quais a parcela significativa de 1/3 das famílias brasileiras vivendo com 1/2 salário-mínimo por mês, sendo que esse índice vai a 46% quando se trata de famílias com filhos de 0 a 17 anos.
A pesquisa feita pela AMB, portanto, ignora a metade das famílias brasileiras ou acredita que elas, embora tenham renda mensal de 1/2 salário-mínimo, possam pagar a assinatura de um telefone fixo que custa em média R$ 36,00. Ou seja, 17,6% da renda familiar comprometida com o telefone que permitiu a amostragem do perfil traçado pela associação.
Ademais, a ênfase dada à
corrupção nas
questões apresenta um traço pouco democrático da
atual gestão da
AMB que tem entre suas campanhas políticas o perfume do
fascio chamado
Ficha Limpa.